outubro 30, 2014

Walter Gropius

Não me considero um maníaco da decoração até porque raramente me lembro que ela existe. Mas a verdade é que consigo perceber se estou na presença de alguma peça de mobiliário que seja fora de série, o que assim só por descargo de consciência me faz ir ver a etiqueta de marcação de preço. A última vez que fiz isto marcava a quantia de 378 euros. Era uma simples cadeira mas completamente redesenhada. A década que mais me impressiona e onde aos meus olhos encontro maior beleza é a década de cinquenta e sessenta do século passado. Na igreja que frequento existem dois cadeirões num estado quase perfeito que sempre que olho para eles fico a pensar porque é que ainda não tenho a minha casa; se isso já fosse verdade comprava-os à igreja pelo seu valor real (hoje em dia cada um daqueles cadeirões vale uns bons 300 euros!!).
Conto isto porque este piano que fui afinar encontrava-se precisamente numa loja de decoração, arquitetura e oficinas artísticas situado ali na cidade de Aveiro. É um daqueles espaços completamente à parte da realidade, com candeeiros por todo o lado, diferentes zonas de trabalho e música ambiente, sempre, claro está, ligada ao Jazz. Desta afinação não há nada extraordinário para contar, mas o que me causou impacto foi, verdadeiramente, o local, o espírito que pairava naquela sala-loja-escritório e a dedicação com que as pessoas executam o trabalho de que gostam. Quando esse gosto existe, parece que tudo o resto ganha nova cor, e que de certa forma as prioridades são reorganizadas, havendo na mesma uma preocupação financeira mas dando igualmente cada vez mais espaço para tudo aquilo que o dinheiro não pode pagar. No limite estamos a falar de prioridades e de estabelecermos o modo como queremos organizá-las na nossa vida. E foi bonito perceber  e ver que o dono daquele espaço tinha decidido fazer precisamente isso.

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