novembro 22, 2012

Quarenta Minutos II

O assunto dos tempos de afinação voltou à minha mente por causa do piano que afinei nesta segunda feira.
Um piano normal, Young Chang, conservado, tinha tudo para sem uma afinação dita normal. Cheguei ao local às 14h15 e no máximo tinha de ter a afinação feita às 18h30.
"Sim, mais do que suficiente. Não há que ter medo." pensei eu, porque ainda estava traumatizado com a afinação do rio Douro, onde pela primeira vez tinha partido uma cabeça do martelo e onde as cravelhas estavam tão presas. Só estando em frente a este Young Chang é que percebi que fiquei traumatizado com aquele acontecimento. Mas consegui acalmar-me e comecei a afinar. Um grande factor de motivação para as minha afinações é a maneira como o primeiro ciclo de afinações corre. Pode muito bem ser um prenúncio do que me espera durante as próximas horas, ou ser (não seria a primeira vez) um grande embuste para assustar os que vão primeiro. Mas desta vez o  primeiro ciclo correu bem e entrei logo em velocidade de cruzeiro.
Acontece que - pormenor mais importante deste texto - eu fiquei sem relógio logo no segundo ciclo de afinações e como sabia que tinha horas para cumprir, limitei-me a afinar o mais rápido que podia sem ter de abrir mão da qualidade da afinação. Obviamente que isto nem se punha em questão. Mais ou menos quase a terminar as cordas triplas, antes de passar para os bordões, consegui arranjar maneira de saber as horas e vi que se tinham passado três horas. Portanto eram naquele momento 17h30. Fiquei pasmado porque tinha mesmo a impressão de que a afinação estava a correr bem e que por isso seria exequível afinal todas as triplas em duas horas, que é o que acontece quando a afinação corre dentro da normalidade. Continuei a fazer o meu trabalho, calmamente porque tinha uma hora para fazer aquilo que sei que faço em meia, que é afinar os bordões.
Afinei tudo, arrumei tudo, tratei de tudo e saí daquele local, e quando cheguei à estação de Metro, olhei para o relógio e vi...   17h12!
Surpresa das surpresas, até fiquei baralhado durante uns segundos mas depois lá percebi: o relógio por onde me estava a guiar estava acertado ainda com a hora de verão, pois claro. Daí eu estranhar já "serem" 18 horas e haver ainda tanta claridade. Mas a consequência útil deste lapso horário foi perceber que afinal a afinação teve uma duração de apenas duas horas e meia. Chegar ao fim e perceber que a noção de tempo estava errada foi um grande alívio, pois o piano não era nada difícil e demorar tanto tempo era coisa que não fazia assim tanto sentido. A observação que tiro daqui obriga-me a repensar o facto de afinar com um relógio ao lado. Ajuda a manter o ritmo ou será que, miraculosamente, atrapalha o trabalho? aqui está mais um aspecto a investigar nas próximas afinações.

Mas não nesta sexta feira.

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