abril 08, 2013

Ílhavo tem três Gafanhas I

Há uns tempos atrás fui afinar a Ílhavo. Pelo que percebi e li, aquela terra tem um historial tão grande na indústria do bacalhau que até tem uma Avenida dos Bacalhoeiros. E atenção que Ílhavo não é Aveiro, se bem que distam uns dez minutos de carro um do outro.

Mas mais do que os feitos históricos desta cidade, passemos à parte que me faz escrever aqui hoje: as pessoas. Actualmente vivo nos arredores de uma grande cidade e por isso habituei-me a, de vez em quando, lidar com alguma distância e impessoalidade no trato diário entre as pessoas, coisa que acontecia muito pouco na cidade onde nasci - Tomar. Digo isto porque quando vou afinar aos locais vulgarmente chamados de "terrinhas" de Portugal, sou tratado de uma forma tão carinhosa e calorosa que é para mim uma honra enorme deslocar-me até esses sítios. Já não é a primeira vez que isto me acontece naquela zona do país, onde depois de afinar convidam-me vigorosamente para comer alguma coisa porque "de barriga vazia o trabalho não rende". Como quem dá vê-se que o faz por gosto, acabo sempre por aceitar. E com comida vem sempre um pouco de conversa e aproveito para conhecer melhor tanto as pessoas como a vida no local onde vivem, embora não haja assim tanta diferença a não ser no sossego. Mas isso é pouco importante, porque o que interessa é a partilha de experiências.
Falo disto porque no que depende de mim, não gosto do modo "chegar-afinar-sair". Se podemos ser cordiais e honestos com o cliente de maneira a que ele perceba tudo o que vamos fazer no seu piano, e ainda para mais tornar a relação afinador-cliente mais próxima, porque não fazê-lo? Acredito que este é o caminho, por isso defendo-o. Pela simples razão de que todos ficaríamos a ganhar naquilo que não é palpável mas é tão agradável: humanidade.






"...e se à porta humildemente bate alguém,
senta-se à mesa co'a gente.
Fica bem esta franqueza, fica bem,
que o povo nunca desmente.
A alegria da pobreza
está nesta grande riqueza 
de dar, e ficar contente."

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