Aprende

É mesmo uma pena que a maior parte dos pianos particulares näo estejam num estado minimamente cuidado. É normal aparecerem-me às mäos pianos que já näo säo afinados há mais de quatro, cinco ou seis anos (isto para näo falar dos casos onde a unidade temporal chama-se "dezena").Quando tenho de afinar um destes, à medida que afino vou ficando mais triste.

Triste porque primeiro que tudo a afinaçäo vai ser um calvário, segundo porque o dono do piano näo entende a necessidade de se afinar um piano pelo menos uma vez por ano e fazer uma revisäo à máquina. Levamos o carro à inspeçäo mesmo quando está tudo bem, fazemos check-ups médicos mesmo quando temos saúde para dar e vender mas näo somos capazes de chamar alguém que dê uma olhada ao nosso intrumento, que custou dinheiro e que deveria estar em boas condiçöes durante décadas, sim, décadas. E terceiro porque enquanto afino, tento inculcar no dono do piano o "amor à camisola" e fazê-lo ver que tem alí um instrumento que pode proporcionar bons momentos, mas que tal como tudo precisa de ser de tempos a tempos avaliado; conseguir que o dono entenda este terceiro ponto é o mais importante e o mais difícil.

Quando explico isto, alguns entendem a questäo e aceitam as indicaçöes, mas  outras vezes leio nos olhos de quem ouve a ideia de "...o que você quer é fazer deste piano o seu tacho, nem pensar!"
Näo é nada disso, muito pelo contrário: afinar muitas vezes o mesmo piano é claramente um mau sinal e eu só gosto de visitar a mesma casa uma ou duas vezes por ano, näo mais que isso.

O que quero evitar é que me peçam, como já o fizeram algumas vezes, para fazer milagres num piano que já näo tem mesmo nada para dar.

Isso sim me entristece, e chateia.