outubro 09, 2009

Famalicão I

Se ser afinador é por si só sinónimo de responsabilidade, ser o afinador de um festival internacional o que será?
Era um festival internacional e o Nuno fez-lhes um empréstimo de dois pianos, um de cauda e outro vertical. A particularidade deste festival, é que realizou-se num centro cultural que possui um piano Bösendorfer 280 (mas não o Imperial, como alguns pensavam).
Esta é a parte do meu trabalho (diferenciação por parte dos proprietários sobre a qualidade do piano) à qual tento não dar muita importancia, quer dizer, dou, mas só em quantidade que não interfira naquilo em que estou concentrado em fazer, que é afinar.
Afinar para este festival foi literalmente um misto diário de emoções.
Já me queixei há uns tempos atrás o facto de afinar mais do que um piano por dia; mas desta vez tive de afinar três, dois dos quais, praticamente novos.Fiquei de rastos logo na primeira ronda e previa uma segunda a meio gás.
Fui ao filé mignon americano já a pensar nas horas de trabalho e tratei de organizar mentalmente as duas afinações que me faltavam .A mim, contaram-me maravilhas sobre aquele "bösen", que era tal carro sonhado pelo Sr. Enzo. Como não conhecia o piano só me restava aceitar os dizeres como verdade.
Então, por volta das três da tarde começei a afinar o Ferrari. 
Mas meus caros leitores, é a primeira vez que digo uma coisa destas, mas comparar um piano a um carro é algo a meu ver bastante triste e desprovido de ideia. Não apoio a ideia de comprar um piano só para exposição; há quem goste, mas para mim não faz qualquer sentido. A história da comparação só me faz lembrar este meu insignificante ponto de vista, mas continuemos.
Tecnicamente, o piano não segura afinação. Foi a primera vez que fiquei mais do que quatro horas à volta de um piano. Contrariamente às minhas espectativas, a afinação foi penosa; é que afinar uma nota e ouvi-la a descer só por causa da vibração das cordas adjacentes é demasiadamente frustrante (lembrem-se que cada nota a partir do registo médio tem três cordas que precisam de estar afinadas em perfeito uníssono!!!).
Queixei-me primeiro ao Nuno e avisei-o que o Bosendorfer 280 de Concerto não estava a segurar a afinação.
Tive de o deixar o melhor que pude porque ainda tinha mais um piano para afinar e tinha passado a tarde toda a afina-lo, só na companhia de um saco de Maltesers.
Fui jantar e apesar de não haver vontade, voltei para o sítio do festival a morrer de cansaço e com o cerebro em modo ignora tudo o que vês/imagina que estás a durmir...

1 comentário:

Unknown disse...

UUiii...
Coitado do Bosendorfer... Já deve tar velhinho...
=)